Poemas -> Sombrios : 

SILÊNCIO TRAIÇOEIRO

 
Vacilo no meu silêncio
que pensava ser meu
mas havia outro afinal
Porque me o roubaste?

Eu sempre acreditei
Que esse silêncio era meu
Tocaste-me sem uma palavra
Só com o teu corpo e a tua alma
Fizeste-me perder aquele medo
Que sempre guardaste em segredo
Falavas-me da lua em noite calma
Até num céu de estrelas me fizeste crer
E hoje aqui estou ainda sem saber
Porque me tiraste esta ilusão
Em troca de uma outra qualquer paixão

Quem começou este jogo
Foste tu indiferença da verdade
Encoberta de rosto de mulher
Pelo véu de ciúme demente
Feito de pedaços do azul do céu
Hesitaste no momento
Em que me quiseste tocar
perdido em mim, em ti, em nós...

O jogo acabou, não pode durar
(Os sonhos jamais alguém pode desafiar)
Sem olhar para trás, tenho que te afastar
Inocente talvez, transgressor fiquei
Violei e roubei todas as palavras da lei

Tantas foram as vezes
Que quis transformar em palavras
O desejo que por ti senti
A ternura da tua boca
Quando se juntava calada com a minha
Lábios que não sabiam falar
Jamais te poderei perdoar
A ti e só a ti dei todos meus receios
Envolveste-me em todas as minhas dúvidas
Acariciaste todos os meus encantos
Foste cúmplice das minhas incertezas
Tomaste conta de mim, insana paixão
Queimaste todas as minhas palavras
Mar a dentro levaste-as num caixão
Até ao bar que se erguia na ilha deserta
Descrita sem rumo e em parte incerta
Brindávamos a tudo de copo na mão
Dançávamos na praia até ao fim da rua
As horas caladas e a noite não passava
Levava o castigo de te ter como escrava.

Olhos a brilhar, cheios de paixão
De volta regressávamos a casa
Voando na noite pelo azul do chão
Seguro pelo anjo que me protege
Apenas com um bater de uma só asa
A tudo um milagre apenas se deve
Ficavas comigo até o sol nascer
Mas, um copo contigo não irei mais beber.

Pergunto à vida o que falhou
O amor não estava todo ali
Foi o sonho da vida que me tramou
Vai-te embora de vez daqui
Já não te ouso lembrar saudade
Sempre acreditarei na mentira
Que seja bendita esta maldade
Que o afogo traz e não tira
Ao falar da verdade que mente
De um anoitecer tardio e carente

Já não te consigo vislumbrar
Dormente silêncio traiçoeiro
Não há mais nada que te possa dar
Indiferente por ti, embriagado fiquei
Não há nada, nada que te quero deixar
Nem o verdadeiro engano que confiei
Sozinho brindo a tudo e bebo o nada
Calado, talvez sofrido, levo-te a alma
Alma vazia sem memoria de ti
Só mais um passo de ti se separa de mim
Este fim que aqui te deixei assim

© Jorge Oliveira


Jorge Oliveira

VISITE E COMENTE O MEU BLOG

Mais poemas em:


http://afacedossentidos.blogspot.com/

<br>
Direitos Reservados
 
Autor
quidam
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1058
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
4 pontos
4
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Tânia Mara Camargo
Publicado: 06/05/2008 22:01  Atualizado: 06/05/2008 22:01
Colaborador
Usuário desde: 11/09/2007
Localidade:
Mensagens: 4246
 Re: SILÊNCIO TRAIÇOEIRO
Não fosse por Ledalge eu perderia tão bela leitura,
lindo poetar e que causou um soneto lindissímo
da poetisa. Parabéns!!!!


Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 06/05/2008 22:24  Atualizado: 06/05/2008 22:24
Colaborador
Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: SILÊNCIO TRAIÇOEIRO
REFORÇANDO O QUE A TÂNIA DISSE, VC ME TOCOU DE UMA MANEIRA, QUE CORRI PRA ESCRIVANINHA E FIZ O SONETO EM TRANSE. SEU POEMA ME EMOCIONOU DE FATO. LEDALGE,BJ