Na boca da noite estrelaram astros
Que cospem cometas pelo empíreo
Para tormentos de uns deuses doentes
Que temem cair em Terra arrasada.
No ventre do dia uma lágrima corre
A procura de um lugar, uma lagoa
Onde as brumas sonham ser nascidas
Ou em piscinas de risos escondidos.
No peito do monte mora um ermitão,
Um eremita que dormita entre rochas
Entre tochas carregadas de vapores
Sem valores mito ou arqueológicos.
Uma gota que um dia foi tempestade
Aguarda ansiosa por se tornar oceano.
Um grão de areia que um dia foi furor
Espera que uma rosa faça raiz em si.
Lá longe, entre o meu e o teu horizonte
Há uma prece não dita, beijo não dado
Sonho não sonhado, abraço não recebido
Do meu provável inimigo.
Entre unhas e travesseiros há cor
E o som bom do silêncio que impera
Tende a ser um grito hirto de mudez
De nudez enérgica, de eficiência poética.
Tudo que eu te digo ou transmito
Por mais que eu rasgue a crisálida
Eu sempre vestirei a indumentária
De um velho dromedário australiano.
Por mais que eu minta ou que mate
Aquilo que renasce mais forte todo o dia
Hidra hercúlea do sul da América do Sul,
Pois, de repente, sou serpente esfíngica e latina e devota que ora, que te abomina , que te lambe e te devora.
Sou o tear que madrugadas tece.
O vapor tenebroso que advém do aço.
Sou muito mais do que digo ou faço
Sou a mão que bate e que em ti... Amanhece.
Gyl Ferrys
Gyl Ferrys