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o Dono da caneta

 
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Um dono da caneta
Esqueceu-se do aparo,
Achando-se muito caro,
Vindo de outro cometa.

Com caligrafia tão bela,
Fez vil gatafunho
E pelo próprio punho,
Com tinta amarela.

Na calada da noite, tão tarde,
Esqueceu a assinatura,
Achando-se belo e pura,
Cavando uma cova, arde...

De cabeças levantadas
Derrubam palácios e impérios,
Doninhas fedem, e ficam sérios;
Cheios de verdades inacabadas.

Sem ela, deixa de ser dono,
A caneta vazia e pobrezinha,
Que se calhar até é minha
E deixei-a ao abandono…


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

Isto podia ter sido escrito pelo cheiramázedo, mas não foi
 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 24/03/2023 12:39  Atualizado: 24/03/2023 12:39
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: O Dono da caneta
olá RB

que nunca te falte a tinta permanente seja qual for o registo da tua escrita.

atenciosamente
HC

Enviado por Tópico
atizviegas68
Publicado: 25/03/2023 17:18  Atualizado: 25/03/2023 17:19
Usuário desde: 09/08/2014
Localidade: Açores
Mensagens: 1538
 Re: o Dono da caneta/Rogério Beça
"Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas cotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!"

Mário Quintana, em a Rua dos Cataventos, 1940


Lápis,
giz,
cera.
Ardosia.
Pedra.
Seixos.
A escrita apenas escolhe a/o amante.

Um abraço