Em dia de missa dominical as pessoas a chegarem de todos os lados, pelos atalhos por meio de pinhais que encurtavam o caminho. E mulheres descalças a passarem os pés pela bica da fonte das moscas antes de calçarem as meias de vidro e os sapatos que levavam num saco de plástico.
Terminada a missa e ouvidos os últimos recados do prior, uma última benzedura e todos a sairem ordeiramente da igreja para dar início às saudações de apertos de mão, abraços ou beijinhos conforme as pessoas e o grau de intimidade entre cada qual. As conversas e as gargalhadas a ecoarem ao longe visto que o adro cheio como um ovo e todos a conviverem por breves momentos antes de se esgueirarem para as mercearias tendo em vista o desejo de se aviarem depressa do que lhes era preciso para toda a semana. E aí a saberem das novidades mais ou menos importantes. Era conforme. De modo que, de vez em quando alguém organizava uma excursão a este ou àquele lugar e assim a notícia a espalhar-se depressa por todas as terras da freguesia.
Certa ocasião, os meus pais decidiram ir também num desses passeios de três dias, organizado de modo a visitar alguns dos mais belos lugares do norte do país. De maneira que, a minha mãe a ter de deixar mato, palha e erva com fartura para o gado do curral que nessa altura, por acaso, até era ali perto já que noutras alturas do ano a terem de ir fazer estrume nos outros currais lá bem mais longe do povo que era onde era preciso para estrumar as calhadas de lá...
E ainda milho, farinha e couves para a amassadura das galinhas, mais a ração dos coelhos. E tudo entregue a uma vizinha das que não íam na excursão e a fazer o favor de nos lá ir tratar dos animais de manhã e à noite.
Fez também uma carne assada que cortou em fatias. Uns pasteis de bacalhau que ainda hoje me estão a saber... E cozeu ainda uma fornada de broa. No resto, para aproveitar o calor das brasas preparou uma caçoila com um coelho e batatas e deitou-a ao forno a assar, bem como um frango que teria de sair bem coradinho mais um tachito de tigelada para ajudar a compôr o farnel que haveria de dar para os tês dias. Umas azeitonas e um queijito de ovelha curado rematavam o que faltava. E lá fomos nós no dia da excursão, todos contentes, de madrugada, numa boleia na carrinha do Ti Américo que nos fez o favor de ir levar à Benfeita e onde já estavam outros felizardos, excitados pela aventura prestes a acontecer. Também eles com as suas cestas do farnel poisadas no chão ao lado e prontos para entrarem na camioneta que nos levaria a todos a conhecer outras terras e lugares diferentes.
A primeira dessas refeições em modo de piquenique foi num pinhal em virtude de se aproveitar a sombra dos pinheiros. Estenderam-se mantas de trapos e por cima delas toalhas de mesa, que se foi enchendo de coisas daquelas que já vos tinha dito... Adultos e crianças todos sentados em volta da mesa improvisada e toca a comer que o estômago não se compadece com passeios de fazerem bem à alma!!!...
Cleo