Ó poema, nesse teu sonho de nuvem aquieta-me o pranto
Sou prisioneiro desta angustia que desponta no horizonte
Bato às portas fechadas do bem querer, estarás a dormir?
Não ouço o doce tilintar dos cristais estendidos ao vento
Nem o canto do pintassilgo nos ramos pálidos da amoreira
Abre-me as janelas às auroras dos teus mananciais de mel
Mostra-me o rumo nestes caminhos errantes de concreto
De volta aos cálidos riachos nos vinhedos da brisa estival
Para juntar-me aos pássaros em sua dança sedenta de ar
Ó poema sonha-me um novo destino na canção vespertina
Minh’alma inda lamenta sob o espelho da lua à meia-noite
Revive o fruto de verdes soledades nos orientes maduros
Redime-me no perfume das flores, no peitoral das janelas
Deixa rescender pelos campos o cheiro da terra molhada
Ao fim da chuva aprazível fresquíssima, pintes o arco-íris
Cantes cânticos de desmedida melodia de sons e silêncios
Faz-me ouvir o assíduo beijar terno das ondas à beira mar
Em meu peito povoam ânsias secretas, na espada e o lírio
Ó poema, derrama do teu doce orvalho neste meu delírio