Ser simples, é ser dono de uma riqueza maior! Ver o brilho nos olhos daquele homem enquanto me explicava os porquês da razão da sua felicidade, era a prova inequívoca da sua verdade absoluta. A terra, cavada de fresco, onde o castanho liso estendido ao sol a prometer viços e flores de todas as cores na volta da primavera. As árvores ainda nuas mas carregadas de certezas de folhas e frutas. Na distracção, há galinhas irrequietas a apoderarem-se do talhão dos alhos ainda tenros, a esgravatar e a debicar sem dó... - xô xô xôooooo daí pr'a fora - enxotando-as numa pressa. Ali ao lado, as cabras e os cabrititos ansiosos de brincadeiras e correrias infindáveis pelo verde do pasto que os espera daí a nada. O mais novo, nascido há apenas três dias, por ali fica ainda no quente do curral por causa da moleza dos cascos. E o luk, aos pulos, não consegue disfarçar a impaciência da demora enquanto ladra de felicidade pela liberdade que a corrente impede. Ainda é preciso tratar da fome muda dos coelhos a contrastar com a barulheira dos frangos esganados. Na volta, cinco ovos ainda mornos a encher-lhe uma das mãos e um sorriso largo a rasgar-lhe o rosto agradecido pela singeleza da vida que o escolheu. E lá vão eles indiferentes ao frio, cão e dono atrás das cabras que se misturam com a paisagem, a fazer as delícias da manhã ensolarada que o vento de norte teima em não deixar aquecer.
Cleo