Poemas : 

Lúcida Insensatez

 
Desperto do sonho aos soluços, entanto não há lágrimas
Aquela imagem dolorida, outra vez vem a me deslumbrar
Seu vestido tinha um decote onde podia verter os olhos
A relembrar seu corpo tão meu, quanto minh’alma é sua
E aquela mulher iluminada, que suspirava como acordes
É só a pintura, que nas galerias da memória, já esmaeceu

É o que basta, pois tatuou-me na pele e carne o que sou
Desde o primevo dia percebi em mim que não seria igual
Em que nossos olhos enlaçados eram espelho do querer
Que, incontroláveis, nas tardes de amor eram incêndios
Quietude impossível, insônia enlouquecida, delírio feliz
O delírio que fazia subir de dois em dois, todos degraus

Imagem esbelta que vem de rompante, loucura e lucidez
Nostalgia que me derrota todas as cautelas de salvar-me
Sem planos e sem tremores, sem impaciência e sem votos
Apenas um réquiem como quem busca no esquecimento
Olvidar dos dias quando andávamos nus de corpo e alma
Onde o amor era nossa expressão de olfato, gosto e tato

Já se vão distantes os dias desse calor corporal, viscoso
O verão é uma névoa delicada que agasalha a atmosfera
Na dor eu canto, mas cerro meus punhos, não me rendo
Posso até trazer no poema uma dúzia de palavras pueris
Mas não olvide, sou o protagonista a permear os tempos
E enfim vê-la desgarrada da morte que enluta meu amor



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Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/02/2023 11:07  Atualizado: 01/03/2023 09:42
 Pedro Oom


https://estrolabio.blogs.sapo.pt/1093202.html

Fizeste-me recordar Pedro Oom, pouco conhecido poeta português com uma característica bastante carnal, surreal até no dia da sua morte 26 abril de 1974, (no quarto ou sala contígua à revolução dos cravos vermelhos, ironicamente morreu no "restaurante 13" em Santarém (numero da sorte ?) comemorando os acontecimentos da véspera), não conviveu com a liberdade de expressão ou com a revolução de linguagens subsequente apesar de expressar um descontentamento subterrâneo não planeado, subcutânea a sua poesia e duma violenta ironia na qual faz um boneco "caricato" ao "antigo regime" velho e provinciano, redutivo de 45 anos de idade, (o fascismo português morreu aos 48 anos de idade e está ressuscitando de novo e com o mesmo bigode farfalhudo mais com uma barba actualizada, e por fazer


História do meu boneco



Cresceu comigo
neste espaço que se diz português
e neste tempo (histórico)
Maricas (era de esperar)
mas rebelde como um felino
ninguém se lhe pôs inteiro
ficou sempre um bocadinho
porque rangia a dentadura.
Depois de 45

afundou-se na continuidade
farfalhou o bigode, à guarda nacional antigo
e esperto como um corisco
instalou-se então, decidido
à mesa do orçamento.





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