Sou um hóspede de mim mesmo quando a noite vem
Chego sem esperar boas-vindas ou outras cortesias
Venho quando os ares já não mais são 'buenos aires'
Não carrego as afabilidades ou a polidez do cotidiano
Sou hóspede de mim quando a madrugada me clama
Andar ereto pela vida, é ser objeto de muita cupidez
Qual o porquê deste canto se nos negaram abraços
Se o horizonte é distante e é lá que está a ausência
Sou hospede de mim até que a noite, exausta, se vá
A pomba que trago nas mãos, não é um sinal de paz
Ela apenas se perdeu no meu quadro negro noturno
No coração em pedaços, não entende o que é amor
Sou hóspede de mim e é assim que resisto à vaidade
Urbanidade, civilidade, suavidade outras dades vãs
Não as possuo, antes, uivo distante e encho a noite
Qual o porquê desse canto se olham com sarcasmo
Na margem do rio que soa, seu canto é que resiste
Sou meu hóspede na noite entre árvores sufocadas
Quando cruzo a linha branca então vou-me embora