Na noite de brumas, não espero a vinda da luz
Nem céus de brigadeiro, coalhados de estrelas
Esvanecidas pelo tempo em ocultos ondulares
Em que restam tão só angústias assombreadas
De todas músicas que nos tocavam o coração
Não ouvirei as vozes de um universo ancestral
Ou o chamado amigo que convidava ao abraço
O campanário de outrora não toca suas elegias
Na noite cinza a chuva persiste, cai indolente
Sobre as estátuas frias n’um jardim sem flores
Onde correram águas tranquilas e rios cálidos
As gotas quais cristais se partem no mármore
Aonde já arderam desejos, eruptos em chamas
Hoje é deserto, milhas e milhas de tanto nada
Uma alma cinzenta emergida d’um mar de nãos
À espera de ressureição pelas estradas do céu
Segredos errantes sopram ao vento frio do sul
Orvalho de neve que se faz pelo hálito celeste
Eu, surdo a tantos signos, afirmo que acredito
Que, seja só sonho, os astros voltarão a brilhar
Em homenagem a Clélia Fátima de Almeida Angeline, amiga há 50 anos que ora nos deixou. Dela partiu a ação que me fez pintar e incentivou minha forma de escrever. O céu tem uma estrela a mais.