para abraços
dois casacos
bastam

um para aquecer
e outro para acolher

no demais
a nua andança sempre conquista
resistente
outras peles
para provimento





Aquela mania de escrever qualquer coisa que escorrega do pensamento.

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Autor
MarySSantos
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 16/02/2023 20:18  Atualizado: 16/02/2023 20:18
Administrador
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Mensagens: 588
 Re: ecdise p/ MarySSantos
Extraordinário, Maria.


Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 17/02/2023 11:06  Atualizado: 17/02/2023 11:06
Administrador
Usuário desde: 14/08/2018
Localidade: काठमाडौं (Nepal)
Mensagens: 2241
 Re: ecdise
Jamais me conformaria se alguém dissesse poderia com poucas palavras escrever um universo de ideias e sentimentos. Mas, isso era antes de ler-te e tendo lido torna-se óbvio que sim.
E a propósito, sim, um abraço pede mais que apenas braços. Saudações.


Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 23/02/2023 19:05  Atualizado: 23/02/2023 19:05
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 642
 Re: ecdise
Um poema e um vídeo inpirador.
Gostei da leitura.
Abraço


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 18/04/2023 20:10  Atualizado: 20/04/2023 20:39
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: ecdise
Acho a escolha do título muito feliz.
Tem algo de exótico, e a sua invulgaridade fez-me consultar o dicionário, por exemplo. Além de ser um termo científico.
Ele significa “Processo de muda da pele ou exoesqueleto” fonte Priberam.
Sobretudo, é auto-explicativo, deixando, apesar disso, o leitor com aquela pontinha de curiosidade da boa.

O segredo que me levou ao comentário deste poema, está na primeira estrofe. Merece destaque:

“para abraços
dois casacos
bastam...”

Ora, apanhado de surpresa, qualquer leitor procura uma verdade nisto.
Imageticamente pensei em dois casacos enfiados um no outro. Com as mangas presas por alfinetes ou linhas imaginárias. Assim ausentes de corpos. Literalmente.
E tive uma sensação de estranheza. Focado apenas nos casacos.

Pensei no conceito de abraço.
Primeiramente, ainda tentei imaginar um auto-abraço. Coisa fria e feia. Quase masturbatória.
Depois, ao chegar intuitivamente ao que se exige no mesmo, tive o óbvio conceito de corpo, esta matéria física que nos limita e define.
E, para ser satisfatório, também cheguei à conclusão que o mínimo exigível é de dois corpos.

O abraço é um comportamento social que tem vários graus de intimidade.
Desde o abraço escrito no fim de um e-mail, que determina um certo laço de estima. Aos abraços que damos aos pais. Até ao encetado num coito, que busca o orgasmo do próprio e do outro.

Sobre um acto físico, apenas pode ser igualado com beijo, em complexidade.

Um abraço, com mais do que dois casacos, é possível.
Podemos ser acusados de promiscuidade, mas já o vimos na comemoração dum golo, num jogo de futebol, por exemplo.
E pode-se até abraçar a promiscuidade.
Desde que não forçada.

Acho o verbo bastar também muito bem conseguido, dando uma força sonora bem interessante, com uma sílaba tónica assaz acentuada.

Engraçadinha a primeira estrofe, não?

Os casacos ficam mais bem apertados na segunda.
Desfaz-se o efeito visual e entra-se na metáfora.

O abraço, como os casacos, aquece e protege.
E nisto o número da primeira estrofe fica mais bem explicado e definido.

A metáfora, como figura de estilo, tem destas belezas. Faz-se comparações não comparando. O número de metáforas chega a ser quase infinito, não faltando novas hipóteses. Haja engenho.
Um casaco aquece (ou será abraço, ou os dois?), o outro protege (será anti-balas ou impermeável?).
Aqui volto a meditar um pouco, não será o “...aquecer...” o “...proteger...” do frio?
E não será o “...proteger...” um tipo de aquecimento?

Apesar destes raciocínios, mantém-se as estrofes num registo curto, seja na métrica seja no número de versos.
É uma estranha ambição desta autora. Ou vocação.
Dizer muito com pouco parece coisa de milagres.

A última estrofe faz mais versos apesar de não ter uma métrica extensa e continuar a haver uma poupança nas palavras mas há pelo menos um verso que destaco, sobretudo pela audácia:

“... a nua andança sempre conquista...”

há nisto um certo atrevimento. E uma verdade pura.

A conquista tem sempre um lado de violência, nem que seja no arrebatamento, na sedução. E aqui mais do que escudo, essa nudez aparenta ser uma arma.

Como se, a mudança de pele para “não-pele”, ou descasacada, pudesse nos ensinar que existem várias formas de estar e que nos revelamos em todas elas.


Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 15/12/2023 17:27  Atualizado: 15/12/2023 17:27
Usuário desde: 12/12/2011
Localidade: Lagos
Mensagens: 1435
 Re: ecdise
Olá MrySantos,
Não sou especialista em comentários e, como autor, não passo de um diletante.
Por isso escrevo apenas:
Admirável forma e conteúdo. Também eu sou adepto da clareza, concisão e economia de meios. O poema tem tudo isto muito mais, Parabéns! Small is Beautiful.
Paulo


Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 18/12/2023 15:18  Atualizado: 18/12/2023 15:19
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: ecdise/ MarySantos
olá Mary

ainda bem que o poema foi re.editado, pérolas destas só podem e devem ser re.editadas milhentas vezes e não chegam.

já muito foi dito nos comentário e muito haverá a dizer, mas logo o início do poema diz tanto que fiquei quentinha por dentro e por fora.
obrigada pelo agasalhar

atenciosamente
HC