De que se fazem as palavras que compõem o poema
Qual o destino terão depois de escritas, aonde irão
Acompanharão quem as leu, nos lumes da memória
Quiçá palavras ocultas a nos seguir em pensamento
Que irão se repetir em nossos versos, como marcas
Imagens sem olvido que, de fato, nem sabemos bem
Serão as notas musicais da canção que não se cala
Meras emoções, sentimentos que vão à eternidade
Morrem e renascem à flor da pele, possíveis ou não
Vencem o limite de onde não se tinha certeza iriam
Apenas acontecem sem que alguém as possa evitar
Mas onde irão as palavras caladas? Serão diluídas?
Dissolvem-se na rua escura dos amargos regressos
Onde aguarda-nos o fim de todo sonho irrealizado
Em vozes vazias, tentativas baldias, mortes certas
Mas a palavra certa faz tudo acontecer diferente
Mistérios decifrados, a primavera a suceder o frio
A incerteza da aridez mitigada nos braços da água
É o arco que impulsiona a flecha ao alvo do desejo
O poema se faz de palavras tal a onda que, na rocha
Bate, invés de morrer, constrói catedrais de espuma