Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 01/02/2023 20:39 Atualizado: 01/02/2023 20:42 |
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Re: o poder da coleira
Esperem lá, é o poder da coleira, ou da cólera?...
(parte 1) P.S.: Já agora, açaime também... |
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Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 11/02/2023 22:53 Atualizado: 11/02/2023 22:53 |
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Re: o poder da coleira
(parte 2)
Este poema parece uma conversa de café que algum amigo comenta connosco com algum azedume. Ou amiga. É também uma reflexão/observação, bastante sumária, mas profunda da importância daquilo a que chamamos de razão, no comportamento humano em geral. A violência é uma perda de razão. Com alguma facilidade, se alguém, num conflito, começar a agredir fisicamente o outro, é comum popularmente dizer que perdeu as estribeiras, ou a razão. Ter ou não ter razão, é também uma causa perdida nesses casos de conflito. Cada um tem a sua. Com mais ou menos acerto, melhor ou pior argumento. A razão é coisa de filósofos, pelos vistos também de poetas. Neste poema associo a mesma à calma, à tranquilidade, à capacidade de controlar os impulsos agressivos, à assertividade (esqueçam lá isso, é um trabalho prá vida toda). O título fala de “...poder...”. Palavra enorme e desejada. Ele, e sobretudo ele, corrompe. Ninguém sai impune, por mais beato que se considere. Sem querer defini-lo com demasiada exatidão, é “a capacidade de ter força”. Neste caso acho a “...coleira...” relativamente inofensiva. Ou seja, como metáfora é imageticamente competente, mas como tenho um gato, ter coleira não me dá um grande poder sobre ele. A trela é um outro assunto. Poeticamente admito que é muito mais pobre, senão convenhamos: “o poder da trela” é mais simplório, talvez prosaico. Mas é a trela que prende o bichinho ao dono, ou à barraca. A conjugação “...coleira...” e trela, é a de superior poder. Faz sentido que na primeira estrofe o “...bichinho...” seja em minúsculas. É uma forma de o diminuir e as suas ações. Um ardil subtil. A linguagem comum, quase em calão do segundo verso mantém o diapasão e coloca a irracionalidade num patamar que se quer propositadamente baixo. Há algo de bastante satisfatório no comportamento desumano, na selvajaria, na brutalidade. Somos uns animais bastante complexos, todos nós. O que nos salva, seja ela a educação judaico-cristã punitiva, ou o conceito de moral e bons-costumes, ou a cultura do certo em detrimento do errado, é a razão. Seja ela uma coleira com nome e morada, ou com uma trela atrás... Em relação ao uso do verbo “...desprende...” utilizado no penúltimo verso, também acho a escolha muito feliz, porque frisa o acto de prender relacionado à coleira. Muito curto este poema, como podem ser alguns teus, mas muito cheio de significado e profundidade. Obrigado pela leitura |
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