É cada vez mais difícil manter o equilíbrio sobre a razão
O olhar perdido no mar azul, a prantear barcos partidos
Não se desata de ver que toda palavra tem sua verdade
Já não me disponho a fazer do poema a última fronteira
Pois não pode mover o mundo, ainda gritado aos ventos
Nem farei meus ouvidos de ninho para o pouso de ardis
A esta altura, meu coração já deixou de falar pela boca
Ignoro se os sonhos se realizam, seu valor é fazer sonhar
Conservo, ainda, uns pares de segredos e esqueci o mais
Olho a lua e invento que meus dedos a tocam, divirto-me
Descobri que a felicidade não está nas coisas que temos
Mas na luz universal do amor e não alguma quinquilharia
Toda vida é única, tanto para a lebre como para a bruxa
Tudo reside no dom de unir a matéria ao tempo sonhado
O beijo não é o lábio. Mas fusão de cor, forma e intento
É cada vez mais difícil manter a tênue linha da sanidade
Se soubermos que não há um átomo belo nem outro feio
E sendo feitos de átomos porque uns se veem superiores
O convidado buscava manter o equilíbrio sobre a razão
Mas na velhice tropeçava nas cômodas como um poeta