A noite estende seu negrume nas horas de ninguém
São duras sombras que ceifaram a luz sobre o trigo
Teus sinais vivem em mim, imersos em minha fronte
Onde viram o passar de uma lágrima a outra lágrima
Marcas de mar e fogo a desafiar o passar do tempo
Nas costas, marcas submersas como antigas chagas
Inundadas pela preamar remota da memória dorida
Fostes a raiz de tudo, a lua e estrelas, voz e silêncio
O poente e a alvorada, a permanência da esperança
Mas preferiste ser navio às cegas a rumar sem farol
O gesto apagado, adeus não acenado ao sol poente
Uma distância sem estrada e um amanhecer sem sol
Porém tu permaneces no meu coração atormentado
Que ainda aguarda a vinda do amanhecer definitivo
Que trará signos nas veredas dos ventos do destino
Teus sinais ainda difundem-se, perniciosos, em mim
E compõem inúteis notas d’uma canção sem música
Poeta, seguirei na sina que me foi gravada na carne
Cavar em silêncio até renascerem sementes de amor