Afiava desconfiado o machado
E descansado goleava a cerveja
A barba farta enfeitada de nós
É um Picasso bruto e inacabado
Daqueles que ninguém deseja
Saía, dizia-se, aos dois avós
Salivava pelos cantos da boca
Todo o conhecimento que tinha
Não lia e nem sequer escrevia
A iliteracia que não era pouca
Fazia livro do decote da vizinha
Páginas abertas onde se perdia
Todos tremiam quando o viam
Curto de pernas e redondinho
Fedorento qual valente barrasco
Contava as cabeças que ali caíam
Ajeitava-as no cepo limpinho
E lá ia o machado do carrasco
A vizinha dava corda pela barba
Fazia dois dele, mais ou menos
Não era uma conta muito certa
Certo é que limpava a rebarba
Em coisa de três dias amenos
E uma tarde seca e descoberta
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma