Poemas : 

A escrita também morre quando a matam

 
Noutras vontades,
Teimosas, teimosas,
Noutras verdades
Tão puras e rosas,
Caíram de fealdade
As rimas e as prosas...
Em formas mortas,
Todas tortas...
Polutas.

Tristes presenças
De letras cruas
Que presas a fundas crenças,
Se mostram vestidas de nuas
Em linhas disformes e tensas.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/01/2023 11:38  Atualizado: 13/01/2023 00:13
 A poesia não morre, nem que a matem ...




A poesia não morre,
Nem que a matem,
Contudo pode ser f'rida
De morte durante o sono,

Com uma bala de prata
Ou uma vulgar estaca
No lugar do coração,
Tal como uma faca

Sem gume, mal afiada.
Desfigurada no rosto,
Sob a máscara da morte,
Não deixará de sair dela

Meu paliativo, minha culpa
De ferimentos, graves
Golpes e da vulgar cura
"Do costume", não punitiva

Mas bonita bela, forma prenha
De copo, taça ou de cálice,
Gamo negro, gazela fêmea, fonte
De bruma, poesia não morre ...








a poesia

Não terminou ali, separou-se
Pelos elementos em igual parte,
Parte em todas essas direcções,
Feiticeira maga, ou morte



(desculpa Manuel, já copio para o lugar dela)





Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/01/2023 11:52  Atualizado: 11/01/2023 13:54
 Re: A escrita também morre quando a matam
.

Cuidado! As flores sempre morrem rápido e depois é a vez dos passarinhos buscar alimento na terra e morre, e finalmente não sobra beleza para ninguém.


Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 11/01/2023 18:46  Atualizado: 11/01/2023 18:46
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3408
 Re: A escrita também morre quando a matam
Este é recente. Bom e recomenda-se.


Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 12/01/2023 12:58  Atualizado: 12/01/2023 12:58
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5848
 Re: A escrita também morre quando a matam
"a escrita também morrem quando a matam"

... mas pode ser ressuscitada! médicos não faltam para fazer a massagem cardíaca e até respiração boca a boca.

(brincando um pouco , porém, convicta da possibilidade )

Maria

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 13/01/2023 09:23  Atualizado: 13/01/2023 09:45
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: A escrita também morre quando a matam
Agora mais a sério (não vamos discutir a seriedade da poesia...), como pode morrer a escrita?
Não me compete ter certezas, mas o assunto parece um caso sério (outra vez?!) de filosofia, ou de incerteza existencial que me apeteceu explorar.
O título obedece a esse facto. Quando se mata algo, ele morre.
Esta é uma forma engenhosa de personificação.
Muito simples, parece, mas deste modo o autor coloca a escrita (que é tinta sobre papel, ou pixels em ecrãs, ou onda sonora, entre outras que me esqueço) no mundo dos vivos. Como um peixe, que nasce, cresce, reproduz-se e morre. E vive.
Além disso o título põe a nu um crime. Uma espécie de homicídio da escrita. Um escriticínio (?!).
Seja voluntário ou involuntário, acidental ou premeditado esse crime mereceu um poema composto por duas estrofes de tom acusatório.

A aposta na rima cruzada tem o tom de colocar uma cruz na sepultura da vítima. Além de conceber ao poema melodia e algum ritmo.
Na primeira estrofe é quebrada nos últimos três versos.
Com nove versos, a primeira estrofe apresenta a teimosia e a pureza como culpadas.
Sendo o adjectivo “...rosas...” também um nome, essa subtil ambiguidade diverge-me entre os espinhos (apesar do perfume) e aquele tom desmaiado de vermelho que dá um tom feminino a tudo.
O que embeleza também pode tornar feio. Sendo que o apelo à flexibilidade e à tolerância visível face à forma como se associa a fealdade à supracitada teimosia.
Uma estrofe forte que também nos fala de “...vontades...” e “...verdades...”.
Acho muita graça ao uso do plural na segunda. “verdades” no singular é ilusória. Cada um tem a sua, embora achemos muito conveniente que as várias “...vontades...” coincidam. Desculpem, “...verdades...”.
Porque, no fundo para se manter viva a escrita deve ter vontades e verdades diferentes e não deve ser teimosa nem pura.

A segunda estrofe tem um erotismo qualquer que roça o estranho. Composta por cinco versos como os dedos duma mão, a rima mantém-se idêntica à maior parte da estrofe antecedente, apesar do som final mudar.
Como que nos quisesse dizer que são as várias camadas de roupa que tornam a vida mais atraente, pois o tom pesado mantêm-se.
Gosto dos versos:
“...Que presas a fundas crenças,
Se mostram vestidas de nuas...”
sobretudo da antítese do segundo. Mas também da justificação que o primeiro significa.
Porque, no fundo as crenças, apesar de nos sustentarem enquanto pessoas e nos ajudarem no dia-a-dia, por exemplo a tomar as mais variadas decisões, não nos podem levar para caminhos fundamentalistas, nem à violência física ou psicológica.

Talvez por isso tenha gostado muito deste poema, por ter uma forte moral sem se tornar demasiado moralista.
Seja em “...rimas e as prosas...”.

Abraço