Poemas : 

O Censurado

 
Caiu num charco de desgraça o inútil
Passou a vida a remar contra a maré
Com um passo apressado e ruidoso
O dia era-lhe sempre cinzento e fútil
Já nem se tinha de pé, nasceu sem fé
Uma mera sombra de espírito ocioso

O inútil até teve graça ao cair no charco
Quando a maré inversa lhe sentiu o remo
E o barulho trauteado de cada passo seu
Na futilidade incolor no dia do ser parco
Perdido na ondulação de viver no extremo
Era o ócio a dar tudo que a vida não deu

A sua alma já entregue e enlameada
Somava o corpo viciado ao ópio popular
Que se apagava pelas quatro estações
Aquela carne apodrecida e esquartejada
Que os ossos teimavam em carregar
Alimentava o olhar de outras emoções

A lama que lhe entrava pela alma suja
Era um opiáceo a minar aquela casca
Corroída por tanto vento e toda a água
Ao anoitecer o insistente piar da coruja
Consumia-se ébrio no odor da borrasca
E o censurado morria-se assim de mágoa





A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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