Espetou uma faca de lâmina torcida
Pela cega e afiada lei da mordaça
Leu os direitos e rasgou-lhe as letras
Que gozavam incautas a parca vida
Numa página nua de certeza escassa
Por não aceitar escritas ambidestras
Tentou o meliante usar a palavra dita
Que lhe escorreu pelo distinto queixo
Qual relógio derretido de certo pintor
Essa imagem de justiça forte e erudita
A fazer lembrar o querido poeta Aleixo
Que cantava quadras a gosto e amor
Foi um espelho que se prostou ao juiz
Homem directo e de sobeja sabedoria
Nascido ignorante como nós mortais
Que em sentença se fez gente infeliz
Citou eloquente o que não defendia
Dos textos sagrados das horas finais
O objecto inanimado chorou e sorriu
Dobrou um esqueleto feito de papéis
Contou os dias irados que o cercavam
Enviou todos para o deus que os pariu
Esvaziou o ser de tantos ossos e anéis
E chamou os homens que o mataram
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma