nesta madrugada
fria e brasileira
caminho pela rua do bairro onde moro
as mãos inutilmente nos bolsos
e na boca o cachimbo
vou pensando um poema
que à cabeça me vem
no tempo em que meu pai ainda vivia
penso que o poema é a canção que não há
e o desprezo infeliz
de olhar as pombam que adormecem na Igreja da Consolação
ás vezes quando ando à noite
sozinho com as mãos nos bolsos
penso que a Imaculada chora
não por mim
mas pelas pombas talvez
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júlio, inédito
Júlio Saraiva