A velocidade da vida deixa para trás os golpes sofridos
A nova cicatriz nem bem recebida já caminha ao olvido
Como esse bosque escuro que atravessamos a cada dia
Buscamos por flores, mas só vemos folhagens de ilusão
Nessa viagem resplandece imóvel cada ícone nascente
Uma fresta de luzes, sem sequer saber a real aparência
E então, entre mansos lamentos escolhemos em branco
Dizemos é para manter a ordem, mas são só aparências
Breve, sem perder a serenidade, incitamos nossos cães
Figurando à hora esperada que tudo é natural e amável
Escolhemos por volúpia quem senta nos lugares à mesa
Qual fosse um fruto necessário para a fome de alguém
E não o que é: o esconderijo que cedo será emboscado
São os poderosos que vão tentar industrializar a poesia
Mas não podem, o poema se faz reverberando o pensar
Se, no entardecer, o poema seja pedra, eles são abismo
Se for pássaro, o poema é a asa que lhe sustenta o voo
A palavra é verde, não fóssil cativo na pedra do tempo
O poema não carece planos, é nômade cruzando a vida
O poema é do tigre o salto e da travessia é o esplendor