O arrogante libertou um sonoro arroto
Passeou-se por ali, de lado para lado
A revirar a cabeça como um louco
E, de repente, parou quase morto
Cheio de fome, sedento e esganado
Aquela existência sabia-lhe a pouco
Enfiou-lhe a faca no bucho
Estripou-lhe ali a carcaça
Bebeu de um gole o vinho
Riu-se da sua vida de luxo
Deitou as mãos à massa
E acordou, sozinho
O hipócrita apareceu e desapareceu
Tudo num escasso sentimento de tédio
Só deixou de si uma sombra tímida
Cada um, gritava, teve o que mereceu
Homem pobre que fora rico, intermédio
Causas da morte essas coisas da vida
No último suspiro chorou
Despediu o corpo já farto
Despejou a alma na lama
Comeu-se, bebeu-te, fumou
Este produto de um parto
Criança da mamã, de mama
O estúpido lambeu as botas ao patrão
Beijou-o e bajulou-o, o energúmeno
Umas palmadinhas na nádega direita
Das insistentes que trazem dor à mão
Camisa xadrez e moustache fenómeno
E pronto, assim tinha a vidinha perfeita
A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma