Quando nos braços ternos desta primavera, acendo a luz do dia que se perpetua, chegas como a primeira madrugada, e o silêncio é como o respirar do teu jardim perfumado.
Há dias que são como o sol que se ergue no seu esplendor, assim, esplendorosos, como a Luz que nos veste e aquece por dentro, a fecundar o âmago na transcendência de tudo o que nos toca.
E és-me assim como um céu de tulipas brancas, sem que um grão de areia sequer, deixe espaço entre mim e ti, na unicidade de tudo o que somos.
Depois do cântico que ecoa na voz do vento, sinto a melodia do nosso abraço, perfumar-nos a alma, como se o Outono se desnudasse ao ver-nos ali e numa paleta outonal, pintasse as sílabas de todas as palavras por dizer, ali, assim, a evocar a voz num tom suave, a desenhar no olhar a candura do bailado dos nossos olhos.
Cada expressão a desabotoar todo o sossego, na nítida impressão do tempo que naquele momento deixa a sobriedade tocar a paz que se insurge, assim, tão precisa e espontânea.
A vida corre, como correm os cavalos na pradaria, o pensamento embala-me na quietude da transparência e esta sensação que trago por dentro, esta vontade intensa de escutar o som quase impercetível do coração neste batuque suave, levanta os meus olhos e numa sensação absolutamente sóbria, faz-me sentir ali inteira, como se vestisse a comunhão por dentro em plenitude.
És como o som do silêncio, sinto o movimento das tuas mãos nas minhas como uma voz que não se cala, a abrir o som das palavras.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros