I
O viver de cada um diz respeito a sua própria vida
E não podemos interferir
Cada pessoa vem ao mundo sozinha
Caminha boa parte de sua vida sozinha
E, no final, vai-se sempre sozinha.
O que somos nós na vastidão do universo?
Podemos interferir no vento que espalha as folhas?
Podemos sorrir no momento de luto?
Acreditamos sempre em um novo alvorecer
Mesmo que tenhamos um noite ruim
E fazemos isso porque sabemos
Que sempre haverá um novo dia e novos desafios.
II
A vida nos ensina a ter paciência
Que há um longo caminho entre o plantar a semente
E o colher o fruto
Ou ver as flores desabrocharem
Nada do que se faz com pressa costuma dar certo
Nada do que foi será um dia
O sol vai nascer independente de você querer ou não
Porque tem coisas que não posso controlar
E isso é uma coisa boa
Porque não gostaria de ser o dono do mundo
E ter que tomar decisões tão sérias assim.
III
Eu ando tão despreocupado ultimamente
Sei que os dias da minha infância já se foram
E os dias da velhice se aproxima
Então penso no que poderia ter feito e não fiz
No que poderia não ter feito e fiz
E no que posso ainda fazer pela frente
O meu semblante não emite o meu sentimento
Porque máscaras adquirimos com o tempo
Com as experiências que a vida nos ensina
Cada um de nós aprende algo todos os dias
E ninguém pode mudar esse fato crucial da nossa existência.
IV
Fale baixo e não permita que meus ouvidos sejam corrompidos
Não posso permitir que acabem com os meus sonhos
De nada adiantaria sonhar e continuar dormindo
Se o mundo não pode ser transformado assim
Então olho para o quadro na parede
Imagino a inspiração do pintor e sua dor perene
No entardecer de um dia qualquer
Que não foi registrado pela memória alheia
Se o momento não pode ser lembrado
Quem deseja saber o que se passava na mente dele
Quando o sol deixou-se ser substituído pelas estrelas.
V
Uma borboleta voou baixinho entre as flores
Não queria assustar os leões e espantar os falcões
Que poderiam não a perdoar por tamanha insolência
E ninguém notou as folhas que caiam com o vento leve que soprava
O mundo parecia correr na sua calmaria
Entre as pedras que permeavam o riacho
Enquanto alguns animais selvagens bebiam água
As lembranças eram atiçadas a memorável poesia
Que mais lembrava uma canção triste de despedida
Quando se ama de verdade e não conhece o amor.
VI
Todas as memórias do mundo em que vivemos
É muito mais do que tudo isso que digo agora
É o infinito de lembranças que povoam os pensamentos
Que permanecem estáticas no coração desolado a pensar
Quando o universo está diante dos olhos indecisos de alguém
Os sonhos são fontes de esperança
Dos que vivem a vida para buscar tesouros
Não bens materiais e sim riquezas eternas
Que só podem ser encontradas no profundo do coração
Sentimentos puros que fazem brilhar os olhos
Que se alojam bem lá no fundo da alma.
VII
Não falo do que não conheço e por isso fico em silêncio
Se não quero deixar escapar os meus sentimentos
Palmilho um território perigoso, bem sombrio
Que pode esconder armadilhas em sorrisos fascinantes
Ou em olhares misteriosos que seduzem
E eu não desejo mais ser traído por sentimentos vazios
Ninguém deveria passar por tamanho sofrimento
Porque a vida deveria ser feita de encontros
Mas prevalecem os desencontros de interesses
Quando desejo o que não posso ter
A vida deixa de ser a melhor opção deste mundo.
VIII
Quero deixar o registro de minhas labutas
Dos desejos que perpassaram o meu coração sonhador
No tempo que não pude ver diante de meus olhos
Porque estava envolto nas penumbras do sentimento
E tudo deixou de fazer sentido para corações vazios
Se os pássaros não podem esconder os seus cantos
As flores estão dispersas pela força oculta dos ventos
Na aurora de um novo horizonte que desponta
Além das altas montanhas distantes
E acalma os corações mais sensíveis que possam existir.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense