Todo amor desta vida, um dia, terá um quê de ausência
Uma dor peregrina que se avizinha na chegada do ocaso
Que se precipita ao silenciar o coro das aves vespertinas
Em tudo há uma perda, disse o tordo na última preamar
E estas estão sempre à espreita, entre os hiatos da alma
Ah, as coisas perdidas e o que nos leciona o nunca mais
Até que a angústia anônima venha se inflamar de súbito
Calando nosso peito com esse silêncio dos abandonados
Então, só nos resta recolher cada resíduo de esperança
Bebericar um whisky sem gelo e ver o brilho das estrelas
A clarear a vazia e interminável estrada dentro da noite
Deixar a dor crestar ao longo das horas até o sol chegar
Pois o que há de sublime, virá bater à porta do novo dia
Havemos de nos permitir cavalgar nos alazões prateados
Nas areias molhadas da beira mar rumo a um amor maior
Esse amor urgente, presença antiga, que brilha no olhar
Sob o céu púrpura do amanhecer novo verso se escreve
E substantivo que era, ora se faz esperança, verbo amar