Como um navegante cansado, estou a procura de um porto. Não tem que ser necessariamente seguro, basta ser um porto, um cais, terra firme. Um porto onde eu possa ancorar minha emoções viajantes tumultuadas. Desembarcar minhas pernas cambaleantes do balanço do mar. Equilibrá-las em terra firme, fazê-las andar em linha reta, dar-lhes direção. Remarcar meus horizontes, deitar meu corpo cansado, descansar de tanto mar...Tempestades, mares bravios, ventos alucinados a procura de terra, me deixaram a deriva,sem rumo. Navegando em águas tépidas calmas, com ventos acariciantes, o céu me presenteou uma estrela , deixei de lado meus instrumentos e naveguei, tendo-a como guia.
Naveguei carnes macias, umidades quentes, reentrâncias convidativas, nada mais vi ou quis ver, recusei sinais de alarme encantado em navegar mansamente por águas tão ternas. Me vi frente a borrasca, a estrela desaparecida já não me guiava, agora cansado, estou a procura de um porto, sentar a beira do cais, olhar para o outro lado do Atlântico procurar nas águas do Minho além mar, minha estrela que há de voltar...ainda que seja para descobrir que não existe. Remarcar meus horizontes...
Carlos Said