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Já dizia Ferreira Gullar, a poesia quando vem não respeita nada.
A mim me atravessa nessa noite fresca de primavera, amena e bela como as flores que saltam depois da reclusão.
Lembro-me que nessa mesma estação nos conhecemos intimamente, e assim como as flores, nos conectamos e reproduzimos uma forma única de expressar os mais íntimos e diferentes sentimentos. Foi na primavera que vi o rosa da tua boca desabrochar comigo em beijos, explorei o branco lírio do teu corpo e vi nos teus olhos tulipas negras, um universo de elegância e sentimentos.
Os dias e noites não pareciam ter o mesmo cronômetro, eram sempre insuficientes. A chuva ao entardecer banhava nossos ouvidos, ouvidos atentos debaixo de poucos lençóis e muita simplicidade. Enquanto a água tomava o telhado e o barulho crescia, dentro de nós eram sussurros e altivez.
Por nenhuma coincidência aquela estação resignificou o que era sentir, um laço primaveril.