Amor meu!
Desisto! Desisto, porque não posso mais viver na ilusão de um amor que não existe. Esperei por ti noites a fio enrolada em lençóis gelados, tremendo de medo na escuridão. A luz que me iluminava era tão só o luar onde se reflectia a esperança do instante em que regressarias. Não sabia de onde vinhas, mas vinhas. Quando chegavas pela madrugada dentro, só o gelo da tua ausência permanecia. Eu, ora cansada, ora desejosa de te ter a meu lado, aceitava-te de volta e amava-te, amava-te perdidamente. Em cada dia que passava renovava a esperança no nosso amor que invadia a minha alma de alegria, aí encontrava a força que me fazia acreditar em ti.
As flores, que me oferecias, eram a semente de uma ilusão, que plantava no jardim do nosso amor, que regava diariamente com as lágrimas da tua ausência e que ia crescendo lentamente.
Era tudo ilusão…
Os teus sentimentos por mim eram como uma brisa que soprava quando te reaproximavas. No teu regresso, eu era apenas a pedra da calçada que pisavas. Nada mais.
Os lugares que juntos calcorreamos nesses loucos desejos, nada te dizem, sei agora.
Vivi durante estes anos na ilusão do teu regresso, na ilusão do teu amor. Nas paredes do quarto via reflexos dos meus pensamentos enquanto esperava por ti, em vão.
Decifrei nesta ilusão que tudo não foi senão um sonho, semeado em mim desde o primeiro olhar. Cresceu, viveu e volatilizou-se.
Os meus loucos desejos foram quimeras. O tempo desvaneceu todo o calor do meu coração, que era teu. Os teus sentimentos evaporaram-se como a água no lume. Ousei prolongar meu sofrimento nesta agonia pelo nosso amor, aumentando a cada dia esta solidão em que me prostraste.
O meu amor por ti cegou-me. Desaparecerás definitivamente dos meus sonhos.
João Garcez