A luz que cruzou o zênite em curva por fim deita ao ocidente
O mar à distância a recebe em assombro como lhe fosse berço
Ouve-se disperso no ar, um veemente som de invisíveis violinos
Soando em regozijo o chamado à primavera que já se aproxima
Já se pode sentir inverossímil o frescor de perfume das floradas
Uma verdade tanto incipiente, quanto o intangível frio que resta
Vem a mim tua imagem intocada e teus túrgidos seios virginais
Estátua gravada em febril mármore, réplica de teu perfil angelical
Tuas formas serpentinas desfilam nessa lembrança mais árdua
E preenche meus olhos tanto de harmonia quanto de lágrimas
Não posso refrear que um tremor aflito paire sobre minh’alma
E desperte-me, coberto de angústia, memórias d’um tempo ido
Na imagem inanimada da brutal partida que te roubou de mim
A fazer-me pequeno, desarmado para seguir num iter sombrio
Assim, fui jogado num abismo de profundidades intermináveis
De onde a palavra do poema que venceu a névoa me resgatou
Definindo a tênue linha que separa vida e morte, sonho e real