as pessoas estão sentadas.
o murmúrio voa encostado aos ouvidos.
alguém tosse.
outro alguém funga.
passa uma cama preguiçosa.
alguém é chamado para esperar mais um bocado.
aqui morre-se lentamente.
e paga-se para aguardar.
não há crianças.
nem adolescentes.
a funerária tem um escritório do lado de lá da rua.
tem clientes.
todos nesta sala têm um semblante paciente e resignado.
eu acho que também tenho.
contam-se pelos dedos de uma mão, os sorrisos.
chamam-me para esperar mais um bocado.
espero.
eu espero.
todos esperam.
chegou um miúdo agarrado ao pescoço do pai.
chora.
a espera olha-o com olhos esfomeados.
observo-a.
reparo nas suas expressões.
não se descrevem.
chamam-me outra vez.
entro para o consultório.
- aguarde um momento -
eu aguardo.
a maralha ficou lá fora.
- olá, boa tarde -
a minha espera acabou.
só a minha.
volto à cefaleia que me está a matar.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.