São dezoito horas e o poeta cruza a porta da taberna
Com ele entraram poemas, filhos da memória noturna
Deixou lá fora qualquer tremor ou tensão de suas asas
Levou consigo o sussurro secreto do eco de si mesmo
E qual não foi o infinito assombro de quantos o viram
Que o poeta pareceu estar feliz, pareceu quase sorrir
As mãos encobriam a surpresa de lábios entreabertos
De todos presentes, qual ele caminhasse sobre águas
Ao invés dos restos que a tormenta atirara às rochas
Ele já não carregava nos olhos aquele ar de ausências
Causando desordem um vulto tão faceiro em público
Sua face pareceu ter vencido o embate com o tempo
Ignorando a dor inenarrável de todo o esquecimento
Deixara ele a noite ser nada além que moldura da lua
Na esquina, o bar, sem desilusões, fez-se reinventado
Não sei se é verdade, eu ouvi dizer que voltou a viver
Falam até que o poeta se permitiu mais uma vez amar