Em meu coração resta apenas uma ilusão murcha dos anos
Em meu coração resta tão só a dor umedecida de lágrimas
Pois pelo interior da alma é só secura, desconsolo e fastio
A lembrança de um lenço azul acenado ao vento do adeus
E depois disso nunca mais fui eu que existi dentro em mim
Já não estou em mim, eu nem existo, mal e mal sou solidão
Ferido, olho pela janela os barcos de partida. Posso seguir?
Eles carregam meus sonhos dormidos em seu doce navegar
Singram para fora sem despedida num silêncio de dar pena
Desiludido, olho pela janela o acender das luzes na bruma
A brisa da tarde soprou para longe minhas doces fantasias
A saudade me invade, como a escuridão veio invadir a rua
Breve já não se verá movimento, tão-só olhos adormecidos
Áridas palavras, incompreensíveis, balbuciadas em segredo
Tal como se gravasse o poema na própria carne que sangra
Nesses hiatos da vida, são palavras incendiadas em sangue
Depois são cicatrizes indeléveis, tudo e nada a uma só vez