Dia um: Constatação
A vida é um caminho justo entre as curvas do tempo
Estas que nós, tolamente, ponderamos que são retas
Quais restamos emaranhados em geometrias insólitas
Cegos tateando pela luz que não podemos encontrar
Em meio a lamentos ímpios ou silêncios desenlaçados
Lápides onde rareiam nossas mais ternas lembranças
São muitos desalentos vitalícios, albergados na alma
Até reconhecermos que estamos fadados a essa dor
Cujas razões nunca vamos confessar nos faz justiça
Dia dois: Encontro
As estradas a caminhar se mostram de forma inusitada
Nada era igual naquele dia tão desigual entre desiguais
Seus cabelos dourados pendiam em cachos nos ombros
Seus vividos olhos de esmeralda, limitaram o meu olhar
Ela caminhava quase a flutuar, seus gestos ondulantes
E sua voz angelical. Não havia como não me apaixonar
Foi nascida paixão, mas foi mesmo a semente do divino
Em terra fértil, ela germinou e venceu todos os limites
Ocupou todos os sonhos, ocupou o tempo e o espaço
Dia Três: Tempo
Ah, tempo breve! Uma vez, dono das memórias gentis
Outra vez, senhor desse desassossego cru, tão hostil
Que consome ilusões, despe-nos de tão caras imagens
Ergue prantos antes calados e rumores encurralados
Conspirando meio à neblina na solidão da madrugada
Deixando na estória da noite só as saudades arredias
O coração remanesce na hipnose do oblívio ilimitado
Como anteparas para esconder-se essa dor contumaz
Mas, cicatrizes perenes obstam negar tão acre sofrer
Dia Quatro: Partida
Mas a carinhosa lembrança dessa esperança irretratável
Jaz entre as touceiras dos espinhos na beira do caminho
Eu, fora embriagado de tanto amor nem sinto o perfume
Que antes inundava todos os cantos e horas, noite e dia
De toda vibração restou um fado nostálgico agonizante
Só há distância, desejos mendicantes e um peito faminto
A aurora na bruma estéril mirra o último sonho redentor
Todo um universo quântico e a mim cabe apenas silêncio
A doçura da brisa ficou fora, quando a porta se fechou
Dia Cinco: Novo Tempo
Quis enfrascar os momentos que vivi no topo do mundo
Os lençóis matutinos desalinhados qual prova da paixão
Mas descobri o que muitos sabem há tantas existências
É o tempo que abateu flores, o mesmo que trará frutas
Estas tão melodiosas e doces, quão aquelas foram belas
A madrugada serena exala novos perfumes, quais beijos
Levam-me a escrevinhar novos versos não mais reclusos
Não mais soturnos nem agonizantes, porém revigorados
Regendo a orquestra de sentimentos, irrequieta paixão
Dia Seis: Urgência
Insensata dor, tu ó dor, porque me querias emudecido?
Solidão, lamentos, ódios e espadas para nada nos urgem
Beijos e risos, correr pela claridade da manhã é urgente
O amor é a urgência, como é o barco a quem vai no mar
Assim qual saborear o som dos rios e das quedas d’água
Lá onde reside a antítese do silêncio que oprime o peito
Saber que a beleza da rosa afronta a frieza dos adeuses
E nossos sonhos quase infantis seguem fartos de afetos
O amor é aconchegar no nosso interior um novo frescor
Dia Sete: Reencontro
Ela tem os olhos mansos, os cabelos são quais os trigais
Viemos de eras pluviosas torrenciais, ora cumpre estiar
Sua voz é mansa, o olhar intenso mira minh’alma exilada
Sei que ainda tenho lamentos aonde quero mais sonhos
Mas reaprendi a voar, meu pouso é seguro em seu peito
Vou ao encontro da vida no sopro quente da primavera
Para além das portas de quaisquer desalentos vitalícios
Abandono a busca pelas respostas inadiáveis e incertas
Louco, ignoro o destino, o que faço nas linhas do verso