Na busca da fonte do poema naveguei contra a corrente
Viajei sob o brilho azul dos equinócios felizes da infância
Eu tal qual pássaro, voava livre sobre o magma calcinado
Doces chuvas primaveris abraçavam as imagens ao redor
Cenas caras que abriguei sob o cobertor de meus versos
Inesquecível som distante das crianças e seus folguedos
Essa foi a gênese de toda minha ânsia na escrita poética
Nestes tempos o pássaro já não quer mais ousar seu voo
Hoje o perigo mantém as crianças presas dentro de casa
Pobres histórias suspensas nas linhas do caderno da vida
E mesmo o sino dominical daquela miúda igreja da praça
Não toca mais, proibido por aqueles a quem tudo magoa
O mundo está tão deformado e vago que não reconheço
Os dias sucedem as auroras em vão pois nada se constrói
Uma névoa cinza, pálida e vaga oculta a lágrima da ironia
Mas o poema se fará, tão infinito qual árduo manuscrito
O destino me deu a noite e canetas como lâminas afiadas
Contra os livros de parágrafos sem sentido e donos cegos
Fadados ao oblívio, tal quem esbanja a nulidade em livros
Também deu-me esta sombra que escreve como outro eu
A palavra não é o acaso, antes um passo rumo a novo dia