Contemplo a fumaça que sobe depois da pequena praia
De um rio que já está quase totalmente seco
Cheio de entulhos e restos de comida em suas margens
Enquanto o poder público
Faz propaganda da próxima festa
Propagando a beleza de outrora em sua imagens
Sem avisar que terão que trafegar
Entre ruas esburacadas.
Um senhor está sentado na praça
Olha uma criança a brincar
O senhor já com as cãs surradas pelo tempo
Pode ser o avô dessa criança
Que talvez não poderá brincar nas águas do rio
Agora quase totalmente destruído
Enquanto se fala de beleza para a próxima festa.
No calçadão arrumam as mesas
Na espera dos turistas que virão
E o vento sopra forte levantando poeira
E no semáforo estão os venezuelanos
Com suas crianças a tiracolo
E uma angústia toma conta do olhar mais atento
Com a realidade tentando ser mascarada mais uma vez
E o pior de tudo é que funciona
Porque a maioria das pessoas nem mesmo notaram
Nada disso que citei acima.
Quem disse que quero endireitar o mundo?
Não é este o meu sincero desejo
Porque o mundo não quer ser mudado
As pessoas andam, correm e voam felizes por ai
Diferentemente dos pássaros
Que já não conseguem encontrar mais árvores para pousar.
O olhar é ofuscado pela visão terrível
De uma destruição anunciada
Que não é percebida por quase ninguém
Porque a maioria está cega em seus próprios mundinhos.
Nem se eu quisesse muito poderia
Mudar a situação em que nos encontramos
Porque a humanidade caminhou até aqui
Com suas próprias pernas e não pretendem consertar
O que destruíram até agora.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense