“ Morre-se de tanta coisa nessa vida
que não chegariam mil vidas para se morrer de tudo.
Morre-se de esquecimento
de angústia
de dor
de saudade
de amor...
Morre-se de espanto
morre-se de silêncio
morre-se num canto
sem ninguém se aperceber
morre-se na rua
com todos a ver.
E morre-se aos poucos!
Todos os dias um pouco mais
quando queremos agarrar as gotas
daquilo que já passou
quando pretendemos segurar
entre mãos o pouco céu que já foi nosso.
Chamam-se loucos
às pessoas que assim morrem
ou pacientes (sei lá) porque exige coragem
para se morrer assim
como se todos os dias arrancassem um pouco à gente
como se todos os dias tu viesses
pé ante pé, silente
e me arrancasses um pedaço de mim! “
ressuscita-se
quando aquele sorriso de filho
nos envaidece
rejuvenesce-se
em cada gota
transformada em brilho
depois das tempestades
enverdece-se
nas manhãs gordas
de carinho
amanhece-se
quando o amor
se barra no pão
e o a café
é adocicado
pelas gargalhadas
em comunhão
refloresce-se
a cada vontade abrigada
nas teceduras dos nossos
delírios
enverdeja-se
quando os quatro braços
amantilham os nossos segredos
mais íntimos
é verdade …
que a precipitação dos minutos
nos envelhece
como a madeira de um barco
mas jamais iremos ao fundo
quando fazemos uso
do nosso coração
para suster
um mundo
sobre o nosso peito
falo
de um filho
de um amante
de um amigo
que procura
mais que um ombro
“Acredito que o céu pode ser realidade, mas levarei flores para o pai - Erotides ”