Está tão lindo dentro do quarto, a luz do sol na janela faz uma pintura colorida na parede, há um coral afinado cantando ao fundo é de uma antiga igreja de madeira que fica perto aqui de casa.
A temperatura está amena, há um leve vento frio mas o meu cão dormindo ao meu lado me aquece, tenho um livro na cabeceira.
Nunca tive tanta paz num dia inteiro neste mundo, eu nunca estive tão só e tão indiferente.
Fiz bolo pela manhã, uma massa no almoço e agora estou contemplando este momento raro da ausência da perturbação.
Morrer deveria ser estar pra sempre neste estado plenitude, não há pressa e angústia nem algo que eu precise dizer, pensar e explicar para me fazer entender.
Está tão calmo quanto num filme de terror aquele momento de paz que antecede uma carnificina completa, ou aquele momento de reflexão sobre a vida antes da bomba nuclear explodir metade do mundo e alagar a outra metade.
Se eu demorar a escrever novamente talvez esse relato ântumo possa ser um presságio do fim antes mesmo que esse dia lindo acabe, ou só o retorno a falta de paz do dia a dia deste espírito perturbado.