Há dias em que uma tristeza do tamanho do mundo
Invade o espírito e se instala como um longo feixe de nuvens baixas
Chove, não chove, chove, não chove
E cada segundo é um suplício e uma tortura
O espírito olha para cima, e procura a direcção do Sol
Mas todo o céu está encoberto e o espírito perdeu a orientação
Não sabe se olha para o céu, ou para o fundo de um lago em que um falso céu se reflecte
E espera. E aguenta. E conta até mil. Até dez mil. Até um milhão.
Conta infinitamente à espera que algo mude
À espera que a tristeza desabe ou, então, que um sol poderoso irrompa pelo dia.
Numa voz murmurada, voltada para dentro, chama.
E não compreende que perdeu a capacidade de ouvir e pressentir e, até, de ver.
Sabe que estão perto, e que ele é que não os consegue percepcionar.
Então, chama por ela.
Mas os céus mantêm-se plúmbeos. O vento quase não sopra.
E a tristeza, essa, não se dissipa.