Sei que, por vezes, teus olhos indagam como fomos nos achar
Olho a ti, digo é dentro de mim que estás e sempre estivestes
Assim é seja se o penso ou quando sonho; e como não sonhar
Se ali estivestes sempre desde antes d’eu pensar te conhecer
Dirás talvez que seja impossível ou não seja da lógica da vida
Mas sei sem dever explicações, de mundo algum ou de lógica
Este amor é verdade e assim sei que estás, mas não te possuo
O amor não sabe o que é posse, nega-se a dizer que és minha
Por isso que não desejo que sejas minha, o pronome da posse
Eis que não tenho nem a mim mesmo, como posso ter outrem
Se não posso evitar para sempre a espada fulgente de Azrael
Como ser dono de outra vida se não posso assegurar a minha
Só o amor é maior que a morte, a renúncia e o esquecimento
Pois amor é entrega e entrega é a consciência de que se ama
Fazendo o amor a primeira e única coisa de tudo que importa
Olho para dentro de mim e vejo a ti: lá estás e sempre estarás
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)