Em boa verdade
eu não soube decifrar os signos
que me enviavas numa flor
ou numa pedra
ou num montículo de sementes
de onde destacavas aquela que
_ dizias_
talvez fosse minha
um dia.
Dizias-me palavras leves
[ às vezes lamentos de violinos ]
e os meus olhos despidos
a entrarem crédulos dentro do teu tempo.
O teu tempo.
Oculto num labirinto de fascínios e credos transitórios
cárcere de medos e silêncios
a estruturarem (des)afetos.
Sei agora de um equilíbrio volátil
consumido em marés vazias.
Quando deslizavas as mãos
pelas paredes comprimidas por uma imensidão
de verbos que te devoravam o passado
e te asfixiavam o futuro.
E tudo se atravessa nesta folha morta
nestes parágrafos
sedentos da intimidade de uma crença construída
em janelas viradas à claridade do Universo.
Este poema poderia ser uma prece.
Porque este poema é como um rio a fluir desordenadamente
é a fuga para além do olhar
para além do ruído que corrói os lugares
e os nomes
e a verdade do teu mundo intocável
onde o meu coração permanece.