#VÁCUO
Tempo...
Sábio ingrato tempo...
Tal qual ladrão furtivo...
Que me rouba sem que eu me perceba...
Minhas idéias...
Minhas imagens...
Minhas palavras...
Meus alentos...
Transforma em cinza minhas saudades...
Os sonhos por mim vividos...
As minhas dores sofridas...
Minhas penas...
Minhas conquistas...
Até elas serão esquecidas...
Assim como amores e desejos...
Sugados ao vácuo...
Preteridos...
O amor mais árduo...
Suprime...
Suas marcas me oprime...
Torna-se pesado...
Tempo que não me ignora...
Transforma as minhas esperas...
Sufoca minhas horas...
Me fustiga...
Traz-me vitórias e derrotas...
Para ti pouco lhe importa...
Será castigo?
Nada terei?
Mais nada?
Nada mais serei?
Nem um pequeno momento?
Relegado ao esquecimento...
Nem mesmo tormentos...
Terei...
Tudo será esquecido...
Até mesmo meus motivos...
Não o compreendo...
E isso deixa-me estarrecido...
Um miserável ontem...
Um ditoso hoje...
Amanhã o que serei?
O tempo em mim já é perdido...
De mim já nem mais falo...
Palavras tornariam-se ecos...
Já não quero mais nada...
Pois tudo nasce e morre...
A cada alvorada...
Tempo...
Tempo...
Meu amante...
Meu algoz...
Esconderá minha alma?
Lentamente...
Lentamente...
Apagando minha voz...
Na escuridão que se avizinha...
Nada mais...
Nada mais serei.
Sandro Paschoal Nogueira
Caminhos de um poeta