Dulcineia
Caminho era o mesmo desde o tempo de menina.
Rosto agora enrugado escondido debaixo da sombrinha.
Olhos presos no horizonte dos pensamentos.
Mão direita conduzia a carroça com mercadorias.
Mais uma semana modorrenta se iniciava.
Vestido de chita estampado de minúsculas flores.
Vermelho esmaecido se perdia no fundo amarelo vibrante.
Cabelos molhados espalhavam alfazema pelo ar.
Nos pés, alpargatas de couro cobriam cansaço da lida.
Assim ia Dulcineia vender suas verduras na feira central.
Gostava muito de seu nome.
Sua mãe Lindalva um dia encontrou um velho livro.
Na capa havia desenho de três pessoas.
Homem alto e magro montado em um cavalo.
Levava uma espada, dizia.
Ao lado estava outro baixo e gordo.
Engraçado, relatava para ela.
Com destaque via-se a figura de bela mulher.
“Chama-se Dulcineia”, alguém disse para sua mãe, analfabeta.
“ Será o nome da filha que trago no ventre”, disse.
Essa história ouviu inúmeras vezes.
De repente um preá distraiu a atenção de Veredas.
Dulcineia se assustou.
Carroça balançou.
Algumas verduras se perderam.
Firme, dominou o acontecido.
Seguiu seu trajeto.
“Ande rápido, Veredas”. Temos pressa.
Sorriu do nada. Pensara algo.
Ao comprar o jumento, não sabia como chamá-lo.
Após dias, lembrou-se do livro que avistara na feira.
Pediu para o vendedor ler o que estava ali escrito.
Gostou. Apenas memorizou “ Veredas”.
Alexandre Sansone
21.05.2022