Entusiasmado pela cerveja, numa bodega qualquer
Imaginarás o amor tal a nuvem cinza que ali flutua
Uma fumaça gris de gente tão anônima quão triste
Um espelho humano retratado em sua face animal
Sem nenhum parentesco com a luz, antes agonia
Mas o verdadeiro amor é o que doma a intempérie
O sono e o grito que nascem do avanço do tempo
Doa a corações subjugados o fogo que os aquece
A vida, passo a passo, acaba por escrever por nós
Pois vamos nos reinventado, loucos sobreviventes
O amor tem o gosto salobro que só água de poço
Tem aquele mesmo toque macio da lã da casimira
Com que nos trajamos para sair em dias da chuva
Nos esquivando do ácido dos dias a cada semana
Quando acolhemos fragmentos, recriando o verso
Saiba que os amores também brilham na periferia
Que pétalas de flor, são tão pétalas nos subúrbios
Tal nas coberturas garbosas, plácidas e luminosas
Também se veem detritos agônicos do poema cru
Que aponta a um novo senso a cada sol dos anos
Em um infinito frisson de palavras jamais escritas
Um horizonte sem horizonte transforma o poema
Esse animal solitário de todas as ilusões perdidas
Sublimará tão louca paixão e desejo em cada linha
Causando a nítida sensação que a vida até existe
O poeta passeará a certeza do amor a cada ocaso
Para ir na última madrugada, nos braços da morte