O poeta não morrerá ao escrever na poesia o que eternize
Um misto de luz e dor, uma esperança áspera, uma espera
Com a doçura do som de águas dos rios de fluida infância
Seja sua voz rouca ou de seda, não se acolherá no oblívio
Que tudo que se escreve é material e ainda assim é poesia
É que a palavra se lança das bocas insanas e pousa lúcida
Após o voo livre em espiral, calma na alma plena de verão
Essa versão platinada da vida que acolhemos no coração
Desse voo solo descobrimos que a vida é uma bela mulher
A nos mandar beijos quando a noite espalha o véu no céu
A vida é a imagem criada num canto solitário da memória
E vai orvalhando a madrugada com os perfumes de flores
É a fantasia silenciosa de pipas a voar num céu sem vento
Um brilho cintilante de copos detrás das vidraças do bar
Mesmo que aqui fora sinta-se só a fumaça de óleo diesel
Entre o rubro profano da melancolia de mares interiores
Somente deixarei de viver a vida quando o amor se acabe
Não o do qual se fala, hipocritamente, cheio de pudores
Mas o que resta em nós como flor em meio aos incêndios
E ainda assim respira, altivo, entre sentimentos farelados