O despertador bem cedo pela manhã chama pela consciência
Antes que dezenas de passos tomem o silêncio das calçadas
Que seguem deixando suas pegadas apressadas nos ladrilhos
Retalhos do jornal de anteontem esvoaçam ao vento outonal
Um cheiro de café sobe as escadas a anunciar os recomeços
São seis horas de mais um dia nevoento, sorte que não chova
As folhas secas fazem uma cobertura farfalhante na calçada
Há espaços vazios, chaminé sem fumaça, o olho mágico cego
Caminho pela tardinha de outono há um cheiro de bife no ar
Que vem do exaustor engordurado da lanchonete na esquina
O negrume da noite transbordou pela rua que se fez sombria
São tantos olhos anônimos a se esconder detrás das cortinas
Bocas cambaleantes exalam a vertigem com cheiro da cerveja
Os pardais dormem nas ameias por onde se guardou o silêncio
Recolho a coberta, já se faz hora de silenciar e talvez, dormir
A madrugada avança impaciente para se apropriar de sonhos
Abro as venezianas para a rua e vejo tantas palavras sórdidas
Que todo mundo repudia, entanto as repete por comodidade
Boas almas caminhando detrás dos muros são tão pequeninas
Logo os jornais do novo dia, terão mesmas notícias de ontem