Hoje sei que a rebeldia não morreu na juventude e vim escrever
Um poema que traga uma pausa aos gestos parnasianos de rimar
Qual uma fumaça se imiscui ao ar adubando as paisagens inertes
Recusando serem alinhadas nas prateleiras das ideias que fluem
Em cabeças cobertas da cisma oculta, sob o boné da ignorância
Versos que para alguns, são nada mais que palavras transversas
Mas que são sementes de muito suor intelectual e tempo gasto
Que caídas em solo fértil, a contragosto daqueles, darão frutos
E fugiremos de viver de mediocridade nesta vida de empréstimo
Mas devo alertá-los que só há uma nesga de deleite na aspereza
Que se escondeu nos solos das baladas melódicas do rock’n’roll
Repontando os refrãos desta labuta caseira de escrever da dor
Como orientar-nos se a fulgurância da facilidade bate na pupila
E nossos simples olhos não veem contrastes à luz das lamparinas
Podendo tropeçar nas sombras, pois que vamos de peito aberto
Como explicarei que é tua própria imagem que mostra teus atos
Se para muitos basta resíduos memoriais das asas, mas sem voar
Como direi que tantos que me adulavam, os vi de costas demais
De meu leito de morte, onde seria mais conveniente eu restasse
Entretanto a dor no peito já amainou e, sei que chegará, um dia
Mesmo sob o peso da fome, este poeta liberto de toda mortalha
Se erguerá desassombrado a contemplar um arco íris só em azul
Quando tinha 59 anos, há oito anos estive morto. Nem pensei chegaria aos 60. Quando retornei, escrevi um primeiro "noturno" - o 6.0 - e desde então, próximo de meu aniversário escrevo um poema de resistência. Pode ser que eu nem chegue neste - pois faltam alguns dias - mas precisei escrever o poema que dedico a todos os falsos amigos que acharam difícil seguir doando sua amizade. Aqui valerá repetir as palavras do Senhor: com a mesma medida que julgares, sereis julgados!