Num repente um rumor na tarde vem nos ensinar a vida
Até o inseto se achega rompendo brevemente o silêncio
Visitando o brilho da maçã madura no peitoril da janela
Da varanda. Nos idos do verão sob estrelas deserdadas
No quintal ainda brilha a luz verde de um antigo pomar
Memória doce e saudosa do aroma gentil da bergamota
Da pálida sensatez das romãs, do vivo rubor das amoras
Que o pássaro carrega sob o casaco de plumas das asas
Naquela que até outro dia fora a casa dos meus sonhos
Agora é uma dura lembrança do que não se concretizou
Daquela vontade de ver os anjos a se deliciar no quintal
Onde podia se ouvir um murmúrio azul das ondas do mar
Nada disso restou, além desse quadro que já se esmaece
Agora, o que existe são trovões a me assaltar os ouvidos
E as marés em sua algazarra sob a fúria das tempestades
Inteirando o concerto noturno que encerra a melancolia
Onde toda a expectativa se tornou o vazio da insipiência
Assim aprendi que a trama do poema não vem da palavra
Mas de algo imaterial e etéreo que sequer poderá existir
Se não provir do calor da alma, nem do mel da esperança