É a última vez trago à tua presença meus poemas descalços
Tal última homenagem às frases interrompidas fora de hora
À luz que a tua fuga apagou com vocábulos pálidos de medo
O poeta, tolice, que esperava a lucidez foi deixado à espera
Sem poder recriar a aurora para brilhar infinita no teu olhar
Restou na distância à deriva, sem terçar a alegria das tardes
Sem o amor que desejava plantar no terreno fértil do futuro
Aonde reside todo o bem daqueles que ainda têm esperança
Mas escolhestes melancolia, a angústia do que não se realizará
Eu queria que voasses nas asas da ave feita de sonho e de luz
Que seguisses sobre campos de flores perfumados de ternura
Um mundo que não coubesse os cinzas do aço e do concreto
Egoísta escolhestes, no entanto, nos legar caminho do silêncio
A ausência de noites sem desejo que sopra no vento haragano
Para nos quedarmos nos porões da vida com lírios de saudade
Qual se fosse essa a única medida que restasse a todos poetas
Não farás com que este poeta te esqueça no tempo implacável
Apenas tu viverás na sombra noturna crendo acostumar ser só
Oblivias que a solidão é viva e cresce a cada palavra não escrita
Um dia a ternura negada silenciará o amor, mas não finda a dor
Homenagem àquela que por medo, pela ansiedade que a impediu de viver um carinho ainda que distante e esperar por um futuro melhor, decidiu acreditar que já acostumou-se a ser só, mas esqueceu que a solidão cresce a cada silêncio até, um dia, nos sufocar.