nunca existiu adão
a primeira mulher
foi feita de pão, água
e assombro
paria como quem transpira
não sabia explicar
porque as ondas vêm e para onde vão
era só uma casa
aberta aos pardais
um corpo despido
que invadia as matas
tinha daqueles amores
de chave na porta
para quem trabalha com o silêncio
até o rumor de faúlhas
queima
se perguntavam se
não seria cedo demais
para a próxima páscoa
ela respondia com
a vulgaridade das giestas
come-se dizia come-se só
porque não se sabe quando
se volta a comer
amei-a um dia
enquanto o seu corpo caminhava
e ela seguia atrás
às vezes ainda regressa