Um Conto (Im)Provável
Estava o Pai Francisco a vaguear no êxtase celestial cuidando dos canteiros das flores silvestres quando o silêncio foi quebrado pelo fervoroso clamor de seus filhos espirituais pedindo a misericórdia divina em prol de um irmão secular desvalido.
Corre célere, o Pai Francisco, buscando Pedro, o guardião dos céus, mas não o encontra mesmo nos seus lugares de providência ou de lazer.
Volve, o Pai Francisco, o seu olhar suplicante para a radiosa e bendita Mãe da Ordem, Maria, que em cortejo angélico, se deliciava em passeio pelos jardins e, num gesto gracioso e maternal, envia os seus anjos para que encontrem Pedro e o convidem a desfrutar o encanto do lugar e ser bem-vindo à sua presença.
E, na terra, o clamor da súplica aumenta… O irmão secular desvalido não sente já que a vida se lhe esvai apesar de todos os esforços do conhecimento humano. As máquinas zumbem alertas e estertores; num momento mais e tudo estaria terminado.
Preparam-se os desenlaces finais; o anúncio da morte, o desligar dos besouros e a fisionomia triste de quem perde uma vida…
Mas eis que chega Pedro à bem-aventurada presença, esbaforido, rezingado pela sesta perdida a bordo do seu barco de pescador, resignado e obediente pelo olhar complacente de Maria, que, num gesto brusco muito próprio, golpeia com o seu cajado de pastor a máquina silenciosa anunciando a morte e a rejuvenesce estridente com tal vigor que “nunca nenhum humano, médico ou outro, tal houvera visto”.
A máquina crepitava regular e o irmão agraciado lá a seguia em cada sístole e diástole forte, a cada respiração compassada oxigenando-lhe o sangue e emergindo-o para a vida.
João Loureiro (Triste Poeta)
Triste Poet@
(João Loureiro)