Entre duas terras, acima das nuvens, perdia-se em pensamentos. Que significado tinha o tempo? Tinha saído numa hora e chegaria seis horas depois... e o voo eram só quatro. Que foi feito das outras duas horas da sua vida? Magicava nestas coisas para passar esse tempo relativo, para fingir não aceitar, como respostas às suas questões, os factos científicos e teóricos dos homens inteligentes. Ela própria acreditava nas teorias da relatividade e outras semelhantes que brincam com a massa, a energia, a velocidade e também com o tempo. Ela também tinha feito intervalos de tempo na sua vida para entender enormes demonstrações matemáticas e físicas. Se tinha optado pelas ciências como podia ser tão instintiva? Porque acreditava nos seus sonhos e na sua voz interior, que só ela ouvia? Por vezes dava consigo afirmando para si própria, que ela própria, era uma contradição entre a inteligência racional e a intuição.
No meio destes pensamentos dispersos decidiu que aquelas duas horas não as poderia perder. Então inventou um sonho que durasse duas horas, apesar de o sonhar em minutos.
E viu o verde profundo. E do verde profundo saiu um ser negro, anfíbio, que saltou para o barco. Tirou os óculos e soltaram-se uns olhos de um verde profundo. Despiu o negro e apareceu um corpo dourado de sol. Ouro sobre verde... Deslumbrante! Olhou-a e sorriu ao ver o seu ar espantado. Olhou o seu corpo pintado do sangue do sol e o seu cabelo solto ao vento do mar. Olhou os seus olhos escuros e profundos como o fundo do mar, de onde tinha saído.
Baixou-se, na sua frente para apanhar uma concha que tinha caído e os seus dedos tocaram suavemente nos seus pés, descalços. Agarrou-lhe na mão e depositou nela a bela concha. Ela fechou a mão como se guardasse um tesouro precioso. E era. Era precioso para os dois. Olharam-se e íam beijar-se...
Já não havia tempo...
As duas horas tinham acabado. O sonho também.
Estava a chegar à terra de destino. Aí, na sua terra, o horário era normal.